quarta-feira, 30 de maio de 2018

Eu, Caminhoneiro


Nasci do pó, da poeira me criei. 
Um pouco terra, um pouco pixe.
Pelas estradas caminhei, caminhoneiro me tornei.
Pelos quatros e outros tantos cantos do país, passei.
Algumas cidades visitei, noutras, me deitei.
Muitas, nem sei, me entediei.

Cargas - pesei, conferi, registrei. 

Por elas competi, refleti, dispensei.
Esperei... Esperei... Esperei...
E como esperei.

Não se vai de um extremo a outro para simplesmente me contentar com o que transportei.
Regressar + transportar + equilibrar as contas = recompensar. Exaltei.

DESTINO.
“Destino por que fazes assim // Tenha pena de mim // Veja bem, não mereço sofrer // Eu quero apenas um dia poder viver // Num mar de felicidades” // (...) Viverei.
(Insensato Destino - Chiquinho Vírgula, Acyr Marques e Maurício Lins)

Destino ou não, vou trafegando por estradas afora, jamais me separei.

Nascido numa época qualquer, numa cidade qualquer, num estado qualquer, que, em um momento qualquer voltarei.
De origem pobre e humilde, minha família me presenteou com a tradição ancestral, onde: que, todo o respeito é pouco; ensino educacional também foi pouco; trabalhar é tudo. E muito. Na bagagem: a roça de sol a pino; ou, o caminhão como herança.
Se forem "todas" essas opções, optei.

Aprendi a cozinhar, a saber as necessidades de minha mala. 
E as desnecessidades. O que me convém só eu sei.

Família constituí. 
Na fé me converti. Um santo, São Cristóvão, escolhi.
Sem acordar as crianças, com um beijo na testa, me despedi.
Sem data planejada para retornar, com aperto no peito me despeço da patroa em plena madrugada. Parti.

Semanas na estrada, a rotina é trocada como num beijo no asfalto a cada buraco novo. Beijei.
Normal é: compartilhar a mesa; dividir a mesma 
TV – e só mudar o canal com a concordância dos demais; banheiro comunitário e por aí vai... 
Apesar de todas estas multidões, a solidão encarei.

“Só ando sozinho e no meu caminho o tempo é cada vez menor.” 
(As Curvas da Estrada de Santos - Roberto Carlos/Erasmo Carlos).

Caminhoneiro não é tudo igual. 
Meus manos; meus companheiros; meus pares.
Cada qual com sua particularidade. Há dentre cada: dignidade; honestidade; personalidade.

Há uma infinidade de diferenças. 
Os solteiros, os casados, os desgarrados.
Têm os comprometidos, os desleixados, os renegados.
Os bem-amados, os desencanados, os maltratados.
Os solitários, os extravasados, os infiltrados.

Será que é pedir demais?

Não tenho a pretensão de requerer tamanha caridade. 
Eis o que Reivindiquei:
*Menor custo no diesel (Cide/Confins) - Economizei.
*Variação mensal - Duvidei.
*Isenção de eixo - Suspendi.
*Cota na Conab (autônomos) - Respeitei.
*Tabela mínima de fretes - Fretei.

Eu, caminhoneiro, o que mais quero neste momento 
é voltar para casa.
VOLTEI!